Ensino, pesquisa e extensão formam o tripé universitário: a extensão articula o ensino e a pesquisa em um diálogo transformador com a sociedade. Com a Universidade de Brasília (UnB) próxima de terminar o processo de inserção curricular da extensão, esse debate foi central durante o IV Encontro de Estudantes Extensionistas, parte da programação da 22ª Semana Universitária.
“Este é um encontro pensado para apresentar nossos projetos para a comunidade, para as escolas, e principalmente para que nossos futuros estudantes possam ver o que a extensão faz”, afirmou o decano de Extensão em exercício, Alexandre Pilati. “Aqui, projetos de áreas diferentes podem conversar entre si. É uma característica importante, a interdisciplinaridade.”
O Encontro aconteceu na terça-feira (30), no Pavilhão Anísio Teixeira (PAT), e contou com a participação de cerca de 500 extensionistas, além de centenas de estudantes de escolas de ensino médio, que também visitavam a Mostra de Cursos de Graduação, no Pavilhão João Calmon (PJC). No PAT, eles conheceram projetos através da mostra de banners e das comunicações orais, além da exposição de produtos de extensão e das apresentações artísticas e culturais.
Desse jeito, foi possível ter um gostinho do que é estudar na UnB. Durante a roda de conversa A Extensão Universitária ontem, hoje e sempre, os estudantes puderam perceber a importância da extensão para a formação cidadã.
O ex-reitor da UnB José Geraldo de Sousa Junior resumiu: “Não há ensino sem pesquisa e extensão”. Segundo o professor, a pesquisa não pode acontecer sem o campo, lugar de trocas e interações. O seu principal projeto, Direito Achado na Rua, é prova disso. “A rua é espaço urbano, político, retórico, de enunciação de valores e ideias, de construção dos direitos. Por isso Paulo Freire, patrono da extensão, dizia que era mais adequado chamar de comunicação, ir e vir”, disse.
Coordenadora do projeto Meninas.comp, que busca aumentar a participação de meninas e mulheres nas áreas profissionais relacionadas à Computação, a professora Carla Koike falou sobre a interdisciplinaridade e a prática da extensão: “Eu não consigo visualizar a extensão com menos de uma disciplina. No trabalho com a comunidade, você não pode levar algo muito específico. Para trabalhar qualquer conceito, precisa abrir para a prática, em termos de como aquilo melhora a qualidade de vida das pessoas ou empodera para que possam causar essa mudança”, explicou.
Liderado pelo Decanato de Extensão (DEX) e pelo Decanato de Ensino de Graduação (DEG), o processo de inserção curricular está próximo de ser completado: todos os departamentos têm até 9 de outubro para envio dos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) com 10% dos créditos obrigatórios reservados para extensão.
Diversas atividades formalizadas junto ao DEX e cadastradas no Sigaa poderão dar créditos aos estudantes: participação em programas e projetos de extensão, além de cursos, oficinas e eventos, desde que vinculados a projetos. Disciplinas novas ou já existentes também podem ser integral ou parcialmente dedicadas à extensão.
“Para a extensão ser parte do currículo, precisa envolver o protagonismo dos estudantes, dar ao estudante a possibilidade de formar seu próprio currículo, inclusive de desafiar o oficialismo”, instigou o professor José Geraldo.
EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS – Além da apresentação de banners e das comunicações orais, a exposição de produtos foi um dos principais destaques do Encontro. A coordenadora da iniciativa Outras Brasílias, Cristiane Portela, do curso de História, falou sobre o projeto e suas quatro ações de extensão vinculadas. Uma das participações do projeto foi a exposição de fotografias sobre o trabalho do Centro de Memórias do Elefante Branco, que é uma escola pública e uma das primeiras do DF. Em outra sala ocorreu a exposição de dossiês produzidos no âmbito do curso de formação continuada, que também se chama Outras Brasílias. Na sequência, foi realizada a apresentação sobre um projeto vinculado ao edital das casas universitárias de cultura, onde está sendo lançado um podcast chamado Papo de Orelhão. O podcast trata de episódios pouco conhecidos na história do DF. A primeira temporada vai tratar sobre a história de mulheres na construção de Brasília. O projeto tem editais regulares que acolhem estudantes com interesse em participar, com a seleção dos novos integrantes feita de maneira interna. Saiba mais sobre o projeto em suas contas no Instagram: @outrasbrasiliasunb e @papodeorelhao.
O projeto Cuidados com a Infância no Ensino Remoto foi desenvolvido em 2021 e continuado em 2022. A aluna Andressa Rios, de Psicologia, nos contou mais detalhes. O foco do projeto é a transição do ensino remoto no período de isolamento da pandemia de covid-19, com destaque para os cuidados na primeira infância. Os extensionistas produziram um estudo sobre cyberbullying, utilizando-se de formulários aplicados em escolas e respondidos por pais, professores e alunos. O resultado foi a descoberta de poucas intervenções, e estas eram mais voltadas para a punição do agressor e raramente para investigar o motivo por trás do ato. O material coletado foi divulgado de forma digital e impressa e tem como objetivo apresentar a diferença do cyber para o bullying tradicional.
Conversamos com Pedro Ivo, estudante do curso de Artes Cênicas e bolsista do Laboratório de Teatro de Formas Animadas (Lata). O projeto Lata tem como foco abordar os teatros de máscaras, de sombras, de bonecos, e lambe-lambe. O núcleo de estudos é aberto à comunidade interna e externa da UnB, o acolhimento é feito para quem deseja estudar tanto a parte teórica quanto a prática dessas vertentes de teatro, e apresenta vários resultados. O projeto começou em 2020 e já produziu três edições de diálogos com artistas, encontros poéticos e do inanimado, entre outros. Estudantes de todos os cursos podem participar do grupo de estudos do Lata, incluindo pessoas já formadas. Além da extensão, outra forma de ter contato com o projeto é através da disciplina de Laboratório de Teatro de Formas Animadas. No Instagram @lata.unb é possível ter informações não só desse projeto como de outros que envolvem as artes cênicas.
A extensionista Brenda Cristina, aluna de Ciências Ambientais, apresentou o projeto Jardim de Sequeiro. As atividades são compostas por estudantes de diversos cursos podendo ser voluntários ou bolsistas, graduandos ou graduados. O projeto ocorre no ICC Norte e ICC Central, sendo um jardim cíclico e naturalista, portanto não está presente sempre, apenas na época das chuvas, quando semeado novamente. Em respeito ao ciclo fenológico, as flores secam e suas sementes são recolhidas e plantadas novamente. A Casa de Chás, um projeto integrado ao Jardim de Sequeiro, tem como objetivo difundir conhecimentos de plantas medicinais. Lais Rocha Melo, estudante de Engenharia Florestal, nos contou mais sobre o projeto. A Casa de Chás abrange tanto a parte do cultivo como a parte do consumo, sendo localizada em um viveiro na Escola da PCR, onde está a estufa com as plantas medicinais. Estudantes, servidores e a comunidade externa podem fazer visitação, que acontece de 13 às 17 horas, às quintas-feiras. Para isso, é necessário fazer um agendamento pelo Google Forms. A visitação é guiada e os alunos explicam um pouco sobre as plantas e ervas, além de seus usos e contra indicações. Para conhecer mais sobre ambos os projetos, siga o Instagram @jardinsunb.
O projeto Primatas do Cerrado, iniciado em abril, é dividido em dois grupos de trabalho, sendo o grupo de divulgação científica e o grupo de educação ambiental, que no momento está trabalhando na produção de materiais teóricos para auxiliar professores. O extensionista Arthur Alves Brito, de Biologia, nos contou mais sobre o projeto. O foco são os primatas do nosso bioma, mas também são estudados primatas do mundo inteiro, além de discussões acerca de mitos e estereótipos. O projeto atua em sala de aula introduzindo a primatologia, e no futuro pretende atuar em escolas. Os extensionistas preparam posts e cartilhas para professores utilizarem com alunos do ensino médio. Para participar da equipe é preciso ser aluno de áreas relacionadas à biologia, porém não precisa ser da UnB. Para saber mais sobre o Primatas do Cerrado siga no Instagram @primatasdocerrado.
Os alunos Priscila Barroso Lima e Marcelo Luiz Rodrigues, da Geografia, apresentaram o projeto sobre Metodologias Ativas Associadas às TDICs (Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação). O projeto tem como objetivo o fortalecimento da formação e da atuação de professores da Geografia da rede pública do Distrito Federal e Entorno. Foi exposta uma de suas metodologias ativas, uma maquete que apresenta a rotação por estações, onde os alunos foram convidados a analisá-la. Os alunos também utilizam da parte virtual e preparam aulas não tradicionais em escolas públicas. Os extensionistas conversam e trabalham junto com os professores, além de acompanhar todas as aulas de Geografia em dias específicos para poder ter uma conexão com os alunos. Para participar desse projeto é preciso ser aluno da licenciatura em Geografia na UnB, no entanto as metodologias ativas podem ser aplicadas a outras áreas.
*Bolsista do Programa Extensão e Comunicação em Rede.
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