Projeto, desenvolvido em parceria entre UnB, IFB e Universitá di Pisa, leva à população informações mais acessíveis sobre a pandemia

Expressões técnicas sobre a Covid-19 adotadas nos noticiários e pela comunidade científica e profissionais de saúde são explicadas no glossário de forma sucinta. Imagem: Reprodução

 

Distanciamento social. A expressão é recorrente nos noticiários nacionais e internacionais quando se fala da pandemia do novo coronavírus. Trata-se de uma recomendação preventiva da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de governantes que prevê a redução do contato físico e estabelece uma distância mínima segura entre as pessoas para retardar a propagação do vírus. Mas você sabia que existem outros quatro modelos de aplicação dessa mesma medida, indicados de acordo com a gravidade da situação?

 

O distanciamento social ampliado, por exemplo, orienta a interrupção da circulação de pessoas de todos os setores da sociedade para combater a pandemia. No Distrito Federal, a regra estava em vigência até algumas semanas, antes da reabertura escalonada do comércio. Já o distanciamento social seletivo restringe a circulação de pessoas dos grupos mais vulneráveis aos efeitos da Covid-19 – doença causada pelo novo coronavírus –, como idosos, diabéticos, cardiopatas e imunodeficientes. Há também o distanciamento social controlado e o intermitente.

 

Esses e outros termos explorados no atual contexto de pandemia estão descritos no Glossário Terminológico da Covid-19. Disponível on-line e com acesso gratuito, o material apresenta informações didáticas que podem auxiliar a sociedade em geral a compreender melhor a epidemia. O projeto é resultado de um mapeamento terminológico da Covid-19 realizado por docentes, pesquisadoras e estudantes da Universidade de Brasília, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB) e da Università di Pisa, na Itáilia.

 

Expressões técnicas relacionadas à Covid-19 adotadas por cientistas, profissionais de saúde, autoridades públicas, imprensa e especialistas no assunto são explicadas em uma linguagem acessível, com suas variações linguísticas.

 

“O Glossário Terminológico da Covid-19, que é uma contribuição da ciência Linguística, será de utilidade pública como fonte de informação sobre esta pandemia a infectados, familiares de infectados, profissionais de saúde, entre outros. Ele descreve a terminologia para que os brasileiros possam se prevenir e conhecer os termos e os conceitos em volta dos sintomas e do tratamento da doença”, afirma Flávia Maia-Pires, professora Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da UnB e uma das coordenadoras do projeto.

 

LINGUAGEM PALATÁVEL – No glossário, é possível encontrar a descrição desde palavras mais comuns até as menos usuais sobre a Covid-19. A exemplo do termo fômite, que designa objetos ou superfícies que potencialmente podem se tornar fontes de infecção, como roupas e maçanetas. Junto a cada verbete, estão informações ortográficas, gramaticais e semânticas, incluso o contexto de aplicação, com base em textos publicados e suas respectivas fontes, e termos correlatos.

Desenvolvido por três instituições de ensino,Glossário Terminológico da Covid-19 está disponível na internet. Foto: André Gomes/ Secom UnB

  

São detalhes que também facilitam a distinção de termos que parecem similares. É o caso de taxa de mortalidade – percentual entre o total de mortes por uma patologia e a população em geral de determinado território, em dado recorte temporal –  e taxa de letalidade – percentual entre o número de mortes provocadas por certa doença e o número de casos confirmados dela, também em dado contexto.

 

Para demonstrar a padronização da terminologia internacional, a obra aponta os equivalentes nas línguas inglesa e italiana, idioma do país que foi um dos primeiros epicentros da pandemia.

 

A primeira versão do glossário possui 75 termos. Todos foram extraídos de documentos oficiais do Ministério da Saúde (MS), do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de instituições vinculadas à saúde, além de textos divulgados em noticiários.

 

Para localizar esses conteúdos, as pesquisadoras tiveram a ajuda de um software de análise de textos que disponibiliza ferramentas para explorar o funcionamento de línguas. Por meio de algoritmos, o usuário pode identificar, em grandes coleções de textos, questões mais complexas da linguagem, o que abrange palavras e expressões típicas e até as mais raras, incomuns ou emergentes.

 

“Depois do processamento dos dados, fizemos uma análise refinada para identificar quais eram os termos de fato relacionados à Covid-19 de maior frequência e iniciamos a busca pelos conceitos”, explica Fernanda Maia-Pires. Com o uso do recurso, as pesquisadoras também criaram um banco de dados que permitirá a atualização quinzenal do glossário com novos termos, enquanto durar a pandemia.

 

Ao navegar pelo site do glossário, o internauta também encontra um Guia de Uso para auxiliá-lo na utilização dos recursos para as consultas. As pesquisas podem ser feitas ao digitar uma palavra na barra de buscas, ao clicar na letra inicial de cada termo ou pela lista de termos ordenados de A a Z, disponível no acesso à página inicial  – sendo possível visualizá-la por completo com o uso da barra de rolagem.

Na coordenação do projeto, a professora Flávia Maia-Pires afirma que a iniciativa oferece uma contribuição linguística neste contexto de pandemia. Foto: Arquivo pessoal

 

CONCEPÇÃO – Flávia Maia-Pires conta que a ideia surgiu em diálogo com a professora do IFB Cleide Cruz, com quem participa em projetos do Centro de Estudos Lexicais e Terminológicos (Lexterm), do Instituto de Letras (IL) da UnB, desde 2003. As pesquisadoras perceberam que a adoção de palavras especializadas sobre a Covid-19 pela imprensa dificultava o entendimento da população sobre a gravidade da crise em saúde pública. Além disso, elas constataram a divulgação equivocada de conteúdos entendidos como dicionários ou glossários sobre a doença que, no entanto, não estavam sistematizados nos padrões adotados por esses tipos de compilações.

 

Por isso, viram a necessidade de produzir informações mais organizadas e compreensíveis sobre o assunto. “Por se tratar de uma doença e de uma situação novas, as lacunas de informação e conhecimento ainda são grandes em relação a prevenção, sintomas, taxas de letalidade, formas de transmissão, tratamento, existência de outros efeitos ou sequelas no organismo dos que foram infectados”, observa a professora da UnB.

 

As docentes foram responsáveis pela elaboração do projeto terminológico e dos verbetes, junto com professora da instituição italiana. O desenvolvimento do design e da plataforma em que se encontra o glossário ficou a cargo da empresa júnior CODAMAIS, do curso de Tecnologia em Sistemas para Internet do IFB. Além disso, o projeto contou com o suporte de uma bibliotecária para a catalogação dos documentos de onde foram extraídos os termos e na inserção das expressões no produto.

 

O trabalho foi contemplado em edital de fluxo contínuo da UnB para apoio de projetos focados no combate à Covid-19 lançado pelos decanatos de Pesquisa e Inovação (DPI) e de Extensão (DEX), juntamente com o Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à Covid-19 da Universidade de Brasília (Copei). 

 

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