Projeto de extensão realiza encontros semanais para discussão temática. Alunos de qualquer curso de graduação da UnB podem participar

Estudantes de graduação da UnB se reúnem para debater temas ligados a direitos humanos. Foto: Amanda Tomás/Agência Facto


Discussões sobre direitos humanos, realização de trabalhos voluntários e debates sobre diversas questões atuais. Assim é o cotidiano do Umanità, projeto de extensão, pesquisa e ensino da Universidade de Brasília. Vinculada ao Instituto de Relações Internacionais (IREL), a iniciativa é um espaço para quaisquer estudantes de graduação da UnB desenvolverem a noção de alteridade e a vivência sobre assuntos humanitários.


Criado em 2012, a partir da iniciativa de duas alunas do curso de Relações Internacionais (REL), o Umanità estabeleceu parcerias com instituições dentro e fora da universidade, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), por exemplo. Isso despertou a vontade de promover trabalhos voluntários e debates sobre direitos humanos – estes hoje são realizados semanalmente no IREL.


Todas as segundas-feiras, das 18h às 20h, os integrantes do Umanità se reúnem. Geralmente há convidados, que acrescentam informações às pautas do tema tratado na ocasião, e há espaço para receber qualquer pessoa interessada em participar. A cada vez, uma ou duas pessoas apresentam o tema em até 20 minutos, e o convidado, em seguida, avalia a apresentação para, então, darem início ao debate. Os presentes têm três minutos para argumentação, com direito a réplica. Ao final, há espaço para feedbacks. Os temas escolhidos são geralmente aqueles que geram divergência de opiniões no público para que haja debate com mais conteúdo.


“Todos sempre respeitam o lugar de fala do outro”, lembra Luíza Ferreira, estudante de REL e ex-membro do projeto. Maria Mariana Xavier, responsável pela coordenadoria de marketing do Umanità, afirma que ali todos se sentem livres para expressarem seus pensamentos, por mais diferentes que sejam, pois ali “não há julgamentos”.


Além dos debates, ao final do semestre, cada integrante do grupo tem que realizar alguma intervenção artística, como fotografia ou performance, ou um artigo, para representar um dos temas abordados nos encontros.

Umanità sai dos muros da Universidade e vai a escolas públicas do DF. Foto: arquivo/Umanità


PROJETO TRANSFORMADOR – O Umanità não atua somente dentro da Universidade: uma de suas iniciativas em curso é o projeto Educare, por meio do qual vai a escolas públicas do Distrito Federal para debater com alunos do ensino médio a respeito de temas já tratados na UnB. Atualmente, esses encontros são realizados no Centro de Ensino Médio (CEM) 404, em Santa Maria.


Ana Viana, integrante da coordenadoria de Gestão de Pessoas do Umanità, conta que a ideia é que os debates com os jovens não sejam cansativos. Por isso, escolhem assuntos que possam agregar à realidade desses estudantes, como a adoção de ações afirmativas – mais conhecidas como “cotas” – como forma de ingresso nas universidades, por exemplo. A seleção de temas é feita a partir de sugestão da escola, consulta aos alunos e contribuição dos membros do Umanità.


O último encontro do Educare foi realizado no ano passado. Devido à experiência positiva, a ideia é que os encontros passem a ser feitos a cada duas semanas. “Queremos focar nessa expansão do projeto para além da UnB, sem perder a parte acadêmica. Estamos no Umanità para ensinar e aprender”, declara Ana.


IMIGRAÇÃO E REFUGIADOS – Luíza Ferreira conta que, no início, o Umanità trabalhava mais com questões imigratórias e de refugiados. Estes eram vinculados ao Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e, em geral, residentes no Distrito Federal. A ajuda que recebiam era para preencher e cadastrar currículos e, além disso, tinham orientações a respeito das leis trabalhistas brasileiras, direitos e deveres, para evitar qualquer tipo de exploração.

Luíza Ferreira participou do projeto em 2017. Foto: Amanda Tomás/Agência Facto


Em 2017, a UnB incorporou-se à Cátedra Sérgio Vieira de Mello, da ONU, e o Umanità também fazia parte disso. A intenção era difundir o direito internacional dos refugiados e promover a capacitação e a formação acadêmica de professores e alunos a respeito do assunto. O principal objetivo dessa parceria era a prestação de serviços diretamente aos refugiados e a inserção deles na vida universitária.


O Umanità, porém, não tem mais esses vínculos externos hoje. Marissa Costa de Castro, integrante do projeto, conta que havia requisitos fora do alcance dos membros, que acabaram se sentindo um tanto invisibilizados dentro de colaborações de proporções tão grandes.


Atualmente, o grupo tenta focar mais na parte de extensão e no esclarecimento do que são os direitos humanos, pois a parte de ensino e pesquisa do projeto já está historicamente mais enraizada. “Chegamos à conclusão de que é necessário direcionar mais o holofote para a extensão, feita primordialmente através do Educare, e colocá-la no mesmo patamar da área acadêmica”, afirma ela, que esclarece que não há a pretensão de transformar o Umanità em exclusivamente extensionista.


IMPACTOS PESSOAIS – Marissa integra a coordenação acadêmica do projeto (ver arte abaixo para entender como esta e outras quatro coordenadorias funcionam) e acredita que a iniciativa foi uma forma de conhecer pessoas novas que compartilham os mesmos objetivos, embora tragam perspectivas e vivências diferentes. “Resumindo, o Umanità transformou minha vivência na Universidade em uma fonte catalisadora de integração, cooperação e autotranscendência”, disse a estudante, que também cursa Relações Internacionais. Ela ressalta que no Umanità aprendeu muito sobre a importância da cooperação e da comunicação, e tornou-se mais responsável e proativa.


Todos que participam do projeto são oriundos da graduação da UnB e não necessariamente precisam cursar Relações Internacionais. Para fazer parte da equipe organizadora do Umanità, o aluno precisa passar por processo seletivo, aberto no início de cada semestre.

Arte: Ana Laura Pinheiro/Agência Facto
 

 

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