Uma aula especial da disciplina Darcy Ribeiro: pensamento e fazimentos proporcionou momentos de reflexão e memória sobre o movimento estudantil. O tema esteve relacionado ao atual movimento em defesa das universidades. A aula magna foi parte das atividades da 19ª Semana Universitária e contou com a participação de Paulo Speller, ex-secretário-geral da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), de Erika Kokay, deputada federal, e de Maninha, ex-deputada federal, todos egressos da Universidade de Brasília.
Os participantes contaram experiências da militância estudantil na época da ditadura e alertaram para o momento que a universidade vive hoje no Brasil. “A UnB rompia com o modelo de universidades da época”, lembra Speller. A instituição chegou a ser fechada pelos militares em 1965 e assim ficou por alguns meses. O professor fez vestibular em 1966 e logo se engajou no movimento estudantil.
“O primeiro movimento do qual participamos foi a invasão dos barracões do Centro Olímpico”, conta. “Lá moraram os trabalhadores que construíram a UnB, e nós passamos a morar dentro da Universidade.”
Nesse contexto, a militância ficou mais forte. Speller participou da criação do primeiro Diretório Acadêmico dos Estudantes do Instituto de Psicologia, organização da qual foi o primeiro presidente.
Com a criação da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (Feub), conheceu o estudante de geologia Honestino Guimarães. Speller lembrou a relevância de Honestino do ponto de vista nacional, chegando a presidir da União Nacional dos Estudantes (UNE).
“O movimento estudantil foi crescendo dentro do campus, mesmo durante a ditadura militar”, conta. “Nos mobilizávamos muito, lotávamos o auditório Dois Candangos nas assembleias, quem não chegava cedo não conseguia entrar”. Depois da prisão de Honestino, em 1968, Paulo assumiu a presidência da Feub. Mas pouco depois também foi preso, expulso da UnB, e acabou tendo que se exilar no México, onde se tornou professor.
Com muita experiência nas lutas, Paulo Speller resume: “Ninguém tem mais capacidade de romper esse cerco à universidade que o movimento estudantil. De levar à sociedade, mostrar à imprensa o que fazemos aqui”.
Maninha, cujo nome de batismo é Maria José Conceição, conta que foi Honestino Guimarães que a apelidou, quando ela entrou na UnB, em 1967. Ela lembrou que os estudantes tiveram que reorganizar o movimento estudantil depois das prisões de Honestino e Speller, num momento brutal. Mesmo assim, Maninha foi presa por três meses em 1970, e expulsa da Universidade. Conseguiu voltar para a UnB apenas em 1972.
“A histórica é cíclica”, alerta. “Estamos vivendo em uma democracia destruída, que nós precisamos recuperar. Precisamos resistir, organizar e avançar aos poucos.”
A caloura do grupo era Erika Kokay, que começou na UnB em 1976 e logo entrou no movimento estudantil, depois de receber um panfleto a convidando para uma assembleia. “Era um movimento muito pulsante”, conta a ex-estudante de Psicologia. “Nossa primeira luta foi para ter curso noturno.”
Erika disse que os desafios à universidade pública estão postos, e que cabe ao movimento estudantil resistir. “Espaços coletivos estão sendo moídos, e a universidade é um deles: ela provoca medo ao arbítrio e ao autoritarismo. Eles querem cercear porque há muito potencial de resistência e construção de avanços nas universidades e nas escolas.”
Veja também: