Ansiedade, imediatismo, autocobrança, isolamento social, pensamento acelerado, insegurança. Questões compartilhadas por muitas pessoas no dia a dia foram recorrentes durante a roda de conversa Universidade e Saúde Mental. A atividade, na tarde desta quarta-feira (25), fez parte da programação da 19ª Semana Universitária.
Como compreender a crise psíquica a partir da intervenção precoce? A pergunta foi o que motivou a discussão, que contou especialmente com estudantes universitários e membros do Grupo de intervenção precoce nas primeiras crises do tipo psicótica (Gipsi), vinculado ao Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep) do Instituo de Psicologia da UnB.
O debate abordou questões próprias da vida universitária e do cotidiano acadêmico, como as pressões da rotina e a dificuldade de conciliar a carga horária com outras demandas. “É importante perceber os sinais que apontam para um nível de sofrimento que sai do controle e se estabelece como fenômeno adoecedor que afeta o nível de bem-estar e funcionalidade”, alertou a psicóloga Raquel de Paiva, vice-coordenadora do Gipsi.
O fim do semestre foi apontado pelos participantes como um período crítico. “O importante é perceber como está a minha resiliência anteriormente. É necessário autorreflexão e percepção do meu valor existencial”, destacou. A mediadora também falou da ilusão criada pelas redes sociais e a constante busca por uma vida utópica.
Na visão do estudante de Antropologia Arthur Brigido, autoconhecimento sempre foi importante, mas as pessoas não se dão conta disso. “O problema é que a preocupação é sempre voltada para as demandas e exigências do meio externo, e não para aquilo que realmente lhe dá prazer e satisfação, que muitas vezes está nas coisas mais simples”, acredita.
Quanto aos recursos disponíveis para amenizar o sofrimento, o grupo apontou a capacidade de diálogo e a importância de se abrir para alguém de confiança; o autocuidado, tanto com a saúde física quanto com a mental; e a autoanálise pessoal e maturidade para entender e respeitar seus próprios limites.
Tendo vivenciado momento difícil em sua graduação, a estudante de Letras Julia Carvalho relatou que precisou trancar um semestre para melhorar seu estado psíquico. “Eu entendo a saúde mental como a saúde física, que precisa de cuidado constante. A pessoa não precisa adoecer ou ter um problema grave para procurar ajuda ou ter cuidados básicos.”
A conversa foi finalizada com uma dinâmica de grupo e prática meditativa. A psicóloga propôs que cada um desenhasse uma mandala, que para ela se trata de uma “representação simbólica de sentimento, afeto e energia capaz de promover reflexão e autopercepcão do estado psíquico-emocional, visando ajustes e investimentos de novos recursos para administrar possíveis crises”.
MOMENTO LÚDICO – A ala sul do Instituto Central de Ciências (ICC) do campus Darcy Ribeiro ficou repleta de atrações e atividades interativas. Com a proposta de engajar as comunidades acadêmica e externa, a Semana Universitária tem atraído pessoas de todas as idades aos quatro campi da UnB.
O evento chamou a atenção do estudante Henry Brito, de Taguatinga, que cursa o ensino médio. “É uma oportunidade de conhecer a Universidade, saber um pouco mais sobre os cursos oferecidos aqui”, mencionou o aluno, que pretende ingressar na UnB para cursar Engenharia Mecatrônica ou Física.
Henry aproveitou a vinda e participou de uma partida de tênis de mesa, iniciativa do projeto Recreando que ofereceu diferentes modalidades de prática esportiva. A proposta, desenvolvida pela Diretoria de Esporte e Atividades Comunitárias (Deac/DAC), é ofertar momento de descontração por meio de jogo ou atividade em grupo.
Inscrita também em outras atividades, Julia Carvalho, que esteve na roda de conversa, considera que a Semuni é uma maneira de se “debruçar sobre temas de interesse que não necessariamente estão ligados ao curso". "Isso também é importante para minha formação como universitária”, considera.
“Acalmar a mente, controlar as emoções e a ansiedade. É um trabalho de desapego mental, uma meditação contemplativa”, destacou o instrutor de tai chi chuan, Tobias Velho. Durante a atividade, os participantes puderam conhecer um pouco mais dos princípios e de algumas posturas e movimentos corporais.
A estudante de Gestão de Políticas Públicas Lara Diniz inscreveu-se em três atividades da Semana Universitária. Como está prestes a se formar, desenvolvendo o trabalho de conclusão de curso (TCC), a graduanda relata que buscou experiências diversas.
“Eu não quis palestra nem coisas com informação teórica porque estou muito cansada e focada no meu trabalho final”, disse. Durante essa semana, ela buscou conhecer novas pessoas, relaxar e sair um pouco da rotina do último semestre. Além de praticar tai chi chuan, a estudante integrou a vivência amazônica e o sarau do Cerrado.
SERVIÇO
O Grupo de intervenção precoce nas primeiras crises do tipo psicótica (Gipsi) foi criado com o objetivo de atuar precocemente no atendimento a indivíduos e famílias em primeiras crises do tipo psicótica, desenvolvendo uma clínica ampliada que favorece o melhor suporte possível no mapeamento da crise psíquica grave.
Outras informações podem ser obtidas pelos telefones 3107 6879 ou 3107 6836 (Caep).
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