Inspirar profundamente e expirar. Fechar os olhos e manter ativa a consciência sobre o seu próprio corpo. Alongar os músculos, movimentar os membros e relaxar. A ioga, técnica milenar indiana que combina exercícios corporais e práticas meditativas, foi uma das atividades que despertaram a atenção de quem passou pelo campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília na manhã desta quarta-feira (25) para acompanhar a Semana Universitária (Semuni). Essa e outras iniciativas incrementaram o espaço de saúde mental, instalado entre o ICC Sul e o prédio da Reitoria, com programação especial dedicada ao bem-viver.
A prática de ioga foi a válvula de escape encontrada pela estudante de Turismo Natália Bispo, 19 anos, após uma manhã agitada de trabalho. Ansiedade, apreensão e dores no corpo eram algumas das sensações acumuladas antes de iniciar a aula, ministrada pelo instrutor Ítalo Duarte. Um dos objetivos da ioga é promover a integração entre corpo, mente e espírito, proporcionar o autoconhecimento e o equilíbrio físico, emocional e espiritual. Em seu primeiro contato com a prática, a discente já observou alguns benefícios.
“Tive um pouco de dificuldade porque eram movimentos muito novos para mim. Mas quando terminou, me senti muito leve e as dores passaram. Você se conecta consigo, esquece tudo e foca em você e na sua energia”, compartilha. A estudante espera ter outras oportunidades de vivenciar a atividade. “Espero que continuem oferecendo, porque há um sentimento de cuidado e nos ajuda a enxergar a Universidade não só como um ambiente de estresse, mas onde podemos relaxar e interagir com outras pessoas.”
Além da ioga, outras ações foram oferecidas ao longo da manhã, com intuito de estimular os cuidados com a saúde entre a comunidade acadêmica e externa. Sentir a fragrância cítrica da laranja exalada de um frasco de óleo essencial. O simples gesto pode ativar as sensações de alegria e de tranquilidade para lidar com fortes emoções, além de aliviar o estresse e os sintomas da depressão. Essa prática está relacionada à aromaterapia, arte e ciência que estuda o uso de óleos essenciais extraídos das plantas para estimular diferentes partes do cérebro, causando bem-estar físico e emocional.
Palestra e oficina de aromaterapia apresentaram a técnica e seus efeitos terapêuticos para auxiliar no equilíbrio emocional. “Existem estudos comprovando que massagens com determinados óleos essenciais duas vezes por semana podem tirar pessoas do quadro de ansiedade crônica”, destacou a terapeuta Lindi Quirant aos participantes. Segundo ela, a ansiedade é uma questão comum nas vivências não só da vida universitária, como também da sociedade, e está muito relacionada às cobranças pelo alcance de metas, como a conclusão da faculdade, a busca de um emprego ou a aprovação em concurso público.
“9,3% da população brasileira é acometida pela ansiedade. É o maior número de pessoas com o problema no mundo. A ansiedade pode acarretar muitos problemas, afetando bastante o aprendizado”, afirma a palestrante. Lindi Quirant reforçou que, muito mais que buscar ajuda para os sintomas do problema, é necessário investigar sua origem. Durante a atividade os participantes puderam entrar em contato e obter conhecimento sobre a propriedade de quatro óleos essenciais para as mais diversas finalidades.
CUIDADO E SABOR – A alguns metros dali, outra oficina instigou o público a buscar hábitos saudáveis pelo paladar. O ensino de uma receita simples de pesto de manjericão e berinjela crocante atraiu atenções na oficina do Projeto de Horta Medicinal e Condimentar. “A proposta é mostrar que podemos ter uma alimentação saudável, com alimentos da nossa própria casa. São coisas simples, baratas, que podemos usar para cuidar da nossa saúde. O preparo é uma etapa importante, porque faz a ligação do indivíduo com o que está consumindo”, defende Silvia de Souza, professora da Faculdade de Ciências da Saúde e coordenadora da atividade.
Há um ano, a docente está à frente de um projeto de horta comunitária em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na região administrativa de Itapoã. Resultado de um convênio com o Ministério Público do Trabalho, a iniciativa levou à comunidade local um espaço para cultivo de plantas medicinais com a técnica da agrofloresta e para conscientização sobre as potencialidades das espécies vegetais nos cuidados com a saúde. O projeto foi finalizado recentemente, mas deve ser renovado em breve.
O manjericão utilizado na oficina da Semuni foi colhido da horta no Itapoã. A nutricionista e integrante do projeto Ingrid Leite salienta que a planta apresenta vários fatores nutricionais benéficos. “Ela é diurética, auxilia na digestão e no funcionamento do fígado. É possível utilizá-la de várias formas, como molho pesto, fazendo chá”, afirma.
Mateus Rodrigues, estudante de ensino médio do Centro Educacional (CED) 06 do Gama, estava transitando pelo local quando se deparou com as delícias em preparação. Não resistiu e resolveu conferir a oficina. “Acho que as pessoas têm a mente fechada para os alimentos saudáveis. Na oficina, mostraram uma forma bem simples de preparar a berinjela com o pesto de manjericão. Falaram que é saudável. Ficou muito gostoso, adorei”, confessou o jovem.
BEM-ESTAR NO FUTURO – Mostrar que é possível envelhecer com saúde e de forma ativa foi proposta da aula Envelhecimento Ativo – o que as pesquisas têm apresentado como diretrizes, também ministrada no espaço de saúde mental. Alunos do curso de Psicologia e público em geral tiveram a oportunidade de se aproximar da discussão e construir novas perspectivas sobre a manutenção da qualidade de vida durante o envelhecer.
Pesquisadora da temática, a professora do Instituto de Psicologia (IP) Isabelle Chariglione coordenou o diálogo e destacou como essa mudança de olhares sobre a velhice impacta no trabalho dos profissionais de saúde. “É comum a definição do envelhecimento como sendo declínio, perda, algo ruim. Mas dentro do aspecto psicológico e gerontológico trabalhamos o envelhecimento com qualidade, o que fazer para envelhecer bem, como ter reserva cognitiva e como atividades físicas e sociais podem melhorar a vida do idoso”, afirma.
Ao mencionar estatísticas atuais, a docente destacou que o Brasil é um dos países que passou por um processo de envelhecimento mais acelerado, o que resultou em despreparo para lidar com a questão em seus diversos aspectos, como políticas públicas, saúde, mobilidade urbana, previdência social e educação. Atualmente, a expectativa de vida entre os brasileiros é de 73 anos.
Segundo Isabelle Chariglione, nas últimas décadas, além de ocorrer alteração na faixa etária considerada idosa pelo próprio aumento na longevidade, também houve mudança no perfil desses idosos. “Pessoas de 60 anos na década de 1980 eram diferentes das que encontramos em 2019. Hoje, elas estão ativas, produtivas e no mercado de trabalho. No entanto, elas têm mais impactos cognitivos porque vivem mais. Se todo mundo que nasce a partir de 2019 pode chegar aos 80 anos de idade, será maior a probabilidade de vermos essas pessoas com quadros demenciais."
Diante do novo cenário, a docente alerta para algumas questões que interferem no envelhecimento com qualidade de vida. Aposentadoria, perda de autonomia e de independência, disfunções na sexualidade, limitações na vida social e no lazer, aparecimento de doenças cognitivas e diferenças intergeracionais são aspectos que afetam as vivências dos idosos de hoje e necessitam ser trabalhados junto aos profissionais de saúde.
Aluna de Psicologia do primeiro semestre, Isabelly Silva acredita que a aula a auxiliou a ter um novo parâmetro sobre como os idosos se sentem. “Muitas vezes nos questionamos sobre quais cuidados eles precisam ter nessa fase da vida, o que seria importante para eles passarem, que perspectivas têm sobre procurar acompanhamento psicológico. Passei a ter um novo olhar sobre a atuação com esses idosos enquanto futura profissional”, comenta. “Isso nos faz pensar também sobre a nossa velhice e como o que fazemos hoje irá afetar o nosso futuro”, acrescenta a colega de curso, Tatiana Andrade.
MAIS – Outras ações movimentaram o espaço de saúde mental no período da manhã e reforçaram a importância de manter a saúde em dia. Auricoloterapia, automassagem e meditação foram algumas das opções encontradas pelo público para relaxar. Também estavam disponíveis para realização exames oftalmológicos e testagem de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Dedicada à promoção da saúde mental, a quarta-feira (25) da Semana Universitária deu visibilidade às ações realizadas pela instituição ao longo de 2019 para acolhimento e apoio ao enfrentamento de situações de crise entre a comunidade acadêmica.
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