A temática da saúde mental tem ganhado notoriedade neste mês com as ações da campanha nacional Setembro Amarelo, voltada à prevenção do suicídio. Na UnB, o assunto tem se mostrado prioritário. Debates e outras iniciativas estão em curso para a consolidação de redes de cuidado e práticas de promoção à saúde; uma política institucional de saúde mental segue em construção. Na última sexta-feira (20), a morte de um estudante no campus Darcy Ribeiro trouxe à tona a necessidade de se ampliar a sensibilização quanto ao tema e fortalecer ações de acolhimento a indivíduos que estão em situações de sofrimento psíquico dentro da instituição.
Psicólogo especialista no tema, o decano de Assuntos Comunitários (DAC) da Universidade, Ileno Izídio da Costa, salienta que a discussão ultrapassa o nível acadêmico e merece atenção no dia a dia da sociedade, com enfrentamento a partir da articulação de redes de apoio. “Esse é um tema humano, não só da UnB, mas da vida. A cada 45 minutos, uma pessoa se suicida no Brasil. Precisamos debatê-lo constantemente, em todos os espaços que pudermos, e pensar quais dimensões da saúde mental podem ser trabalhadas na Universidade”, observa.
Durante a Semana Universitária, que segue até sexta-feira (27), comunidades interna e externa terão acesso a ações desenvolvidas ao longo do ano para valorização do bem-viver, com programação especial. A quarta-feira (25), é o Dia da Saúde Mental e Bem-Estar. Atividades com foco na temática serão oferecidas pelos decanatos de Extensão (DEX) e de Assuntos Comunitários (DAC) no espaço da saúde mental, que estará montado na entrada do ICC Sul, no campus Darcy Ribeiro.
O decano Ileno Izídio destaca que esse é um momento importante para reforçar os diálogos e dar maior projeção às iniciativas já oferecidas pela Universidade com intuito de valorizar a vida. “O dia da saúde mental é importante para manter o tema pulsando. Essa discussão é complexa, por isso deve ser feita cuidadosamente, não apenas em uma data, mas no ano inteiro, a partir de pesquisas e práticas embasadas”, pontua.
Práticas corporais, lúdicas e integrativas, como ioga, muay thai, meditação, tai chi chuan, automassagem, dança e auriculoterapia ocorrerão gratuitamente no local. Palestras, oficinas e rodas de conversa também abordam o assunto e oferecem alternativas para enfrentamento das questões emocionais que impactam o dia a dia dos indivíduos. A participação em algumas atividades demanda inscrição prévia pelo Sistema de Extensão (Siex).
Para incentivar os cuidados com a saúde, o espaço disponibilizará serviços para realização de exames clínicos, como prognóstico para miopia e astigmatismo e testagem de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). O cardápio do Restaurante Universitário (RU) será adaptado para oferecer à comunidade acadêmica alimentos funcionais.
Coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio da UnB, Marcelo Tavares ministra palestra, às 15h30, no anfiteatro 10, sobre saúde mental e bem-estar. O docente abordará a relação entre questões emocionais e biológicas. Segundo Tavares, todas as experiências afetivas desencadeiam reações no organismo, dos pontos de vista biológico e psíquico.
Apesar de nosso organismo estar naturalmente preparado para lidar com as diferentes emoções, com mecanismos de proteção aos indivíduos, ele afirma que, culturalmente, somos ensinados, desde a infância, a negar e desqualificar essas emoções.
O docente reforça que, quando o indivíduo ignora seus sentimentos, são potencializados processos que podem gerar adoecimento. Por isso, durante a palestra ele incentivará os participantes a trazer os conhecimentos disponibilizados para suas próprias experiências de vida. “À medida que tenho consciência do que sinto e de como me relaciono com as coisas que acontecem em mim e ao meu redor, consigo identificar qual necessidade de cuidado está expressa”, observa.
A vivência Dança Viva: Prática Respiratória e Consciência também é uma oportunidade de trabalhar questões emocionais a partir da dança. Durante atividade, os participantes passarão por um trabalho de percepção corporal, com base em movimentos sistêmicos que auxiliarão a observar a complexidade da personalidade de cada um e a polaridade dos sentimentos.
“A ideia é que as pessoas percebam a humanidade não somente no outro, mas também nelas mesmas. O objetivo é chegar em um ponto de alegria a partir de movimentos corporais que trabalham os centros energéticos”, esclarece o condutor da prática, Leonardo Figueiredo.
O profissional é referência técnica em medicina e terapias antroposóficas da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Leonardo alega que, ao final da dança, muitos participantes relatam ter resgatado a alegria de viver. A atividade acontece das 10h às 12h e tem vagas limitadas. A inscrição é feita pelo Siex.
PROMOÇÃO DA SAÚDE – Em 2018, a Semana Universitária também dedicou um dia temático ao bem-viver. A repercussão entre a comunidade acadêmica motivou a continuidade da iniciativa. “Observamos que essas atividades, independentemente do perfil, foram muito bem acolhidas e aceitas pela comunidade. As pessoas ficaram muito felizes por estarem ali”, observa a decana de Extensão Olgamir Amancia.
A gestora destaca que a programação foi ampliada neste ano e conta com maior envolvimento das unidades acadêmicas. Segundo Olgamir, a ideia é dar seguimento às ações de extensão com a temática já oferecidas à comunidade. A decana espera que as atividades desta edição impulsionem ainda mais o debate sobre saúde mental na Universidade. “Esse é um dia para dar visibilidade ao fato de que aqui também há um espaço para debater e construir ações para enfrentar o sofrimento”, afirma.
A UnB também integra o rol de universidades promotoras da saúde. Nesse sentido, um de seus focos de atuação tem sido o estímulo a iniciativas para cuidado das relações no ambiente acadêmico, um dos fatores de proteção à saúde mental. A diretora de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu/DAC), Larissa Polejack, frisa que a instituição tem dado maior ênfase a essas ações em 2019.
“A inclusão na programação é uma forma de conscientizar a todos sobre como o tema deve ser cuidado ao longo do ano e que toda a comunidade precisa estar envolvida na promoção do acolhimento e no fortalecimento do vínculo e do senso de pertencimento à Universidade”, atenta.
APROXIMAR A COMUNIDADE – De segunda (23) a sexta-feira (27), unidades acadêmicas também realizarão atividades para envolver estudantes, técnicos-administrativos e docentes no cuidado e promoção à saúde. Para conhecer a lista de oferta, basta acessar a programação da Semana Universitária. Interessados em participar devem efetuar inscrição prévia pelo Siex.
A atividade Vamos falar de saúde mental e bem estar? - O curso de Sociologia da UnB, suas pesquisas e diálogos com o tema propõe a discussão dos resultados iniciais de projeto desenvolvido em disciplina do curso de Ciências Sociais sobre o assunto. Na ocasião, será realizada oficina para tratar de questões relacionadas à saúde mental, como pressões da vida acadêmica, espaços e ações voltados ao bem-estar na Universidade. Também haverá um momento para partilha de experiências da comunidade acadêmica. A atividade acontece na terça (24) e quarta-feira (25), das 14h às 16h30, na sala de defesa do Instituto de Ciências Sociais (ICS).
Oferecida pela Faculdade de Medicina Veterinária e Agronomia (FAV) na sexta-feira (27), a roda de conversa Saúde Mental no Mundo Universitário e como promover a saúde também se aproxima da temática. A atividade abre espaço para diálogo sobre instrumentos de apoio para estudantes enfrentarem os desafios surgidos com o ingresso na vida acadêmica.
Na Faculdade de Ceilândia (FCE), seis atividades dão destaque à questão. Duas delas estimulam o contato com manifestações artísticas como forma de enfrentamento de problemas da ordem. A (re) construção das identidades e da autoestima por meio da escrita: estratégias de escrita e saúde é título de conferência na quarta-feira (25), sobre as possibilidades de uso da escrita na expressão dos sentimentos.
Fomentar por meio da arte o empoderamento dos indivíduos e a valorização da diversidade é proposta da oficina Saúde e Diversidade: a arte como política de resistência, que ocorre na sexta-feira (27).
REDE DE APOIO – Oferecer um ambiente acolhedor, de cuidado e respeito à multiplicidade dos indivíduos, focado na promoção de relações saudáveis e na qualidade de vida tem sido um dos compromissos assumidos pela UnB no âmbito da saúde mental. A Universidade possui uma rede de serviços gratuitos para estudantes, docentes e técnicos administrativos que necessitem de orientação, apoio e atendimento psicológico.
O Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep), o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Atendimentos em Saúde Mental e Drogas (Nepasd) e a Coordenadoria de Atenção à Saúde de Qualidade de Vida (CASQV) são alguns dos espaços de referência para amparo da comunidade acadêmica. Outras unidades administrativas e núcleos da instituição dispõem de iniciativas de escuta e auxílio no enfrentamento de dificuldades no ambiente acadêmico para diferentes públicos, abrangendo temáticas como diversidade, necessidades especiais e vulnerabilidades socioeconômicas.
A criação da Dasu, em abril deste ano, também objetiva completar os esforços de sensibilização da Universidade sobre os cuidados com a saúde mental e de promoção de ações focadas no bem-estar e bem-viver. Para agregar novas estratégias, a unidade tem coordenado a oferta de terapias integrativas aos segmentos universitários. A diretoria está mapeando as boas práticas de acolhimento em saúde mental no ambiente acadêmico para dar-lhes maior visibilidade. Informações sobre os serviços e ações oferecidos pela Dasu podem ser obtidas pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
A instituição também busca se articular com iniciativas externas e capacitar docentes e técnicos administrativos com o intuito de consolidar as estratégias de acolhimento da comunidade acadêmica em situações de crise.
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