Preservar a memória dos projetos artísticos e culturais da Universidade. Esse é o principal objetivo do Núcleo de Acervo Artístico, constituído por materiais utilizados em produções realizadas ou apoiadas pela Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA) da UnB. A Batcaverna, como é conhecida, fica localizada no ASS 269, ICC Sul, e está aberta para visitação de segunda a sexta das 8h30 às 11h30. O material está disponível para consulta e empréstimo da comunidade universitária. Ainda em processo de catalogação, o espaço contém figurinos para cinema e teatro, materiais cenográficos, além de uma memória audiovisual das produções da diretoria. “Esse acervo conta a história da DEA, e o que movimentou a cultura da Universidade durante esses 20 anos”, diz Magno Assis, coordenador de Arte e Cultura da diretoria.
O trabalho já começou. 40% do acervo audiovisual foi catalogado, enquanto a parte de figurino e de objetos está sendo iniciada agora. A ideia é que disciplinas da graduação voltadas para a preservação da memória possam utilizar o local como prática para os alunos. “O próximo passo é alunos de Arquivologia e Museologia utilizarem esse espaço. Uma turma de 30 estudantes pode fazer a descrição da maior parte desses objetos”, explica.
Em 1996, Magno era estudante de Artes Cênicas. Como novo servidor da diretoria, retomou a Quinta Cênica, projeto criado pelo professor Jesus Vivas, e descontinuado no final da década de 1980. No subsolo do anfiteatro 9, onde acontecia o programa de esquetes temáticas, ficava uma salinha conhecida como Batcaverna, que abrigava as becas de formatura e alguns morcegos. Quando novas becas foram adquiridas, o espaço foi doado para a DEA, que começou a usá-lo para guardar figurinos e objetos cenográficos. “À medida que as produções aconteciam a gente ia construindo o acervo”, conta ele.
Não foi sempre que contaram com o apoio da Universidade. Da sala original, o projeto foi deslocado para uma sala cedida pelo DGP, onde hoje fica a Odontoclínica. Depois disso, foram para o mezanino, onde fica o curso de Letras. Quando o departamento entrou em reforma, tiveram que sair novamente. Em 2004 foram despejados pela prefeitura: “A gente fica em um puxadinho no subsolo. Um belo dia eu cheguei e a prefeitura tinha derrubado todas as divisórias. O material ficou confiscado durante um ano – todo o acervo ficou numa salinha na prefeitura”, afirma o diretor.
"Todos que pegam alguma peça se comprometem a devolver no mesmo estado e pra usar pra fins da comunidade. Não é pra festa, não é pra trote. É pra algum espetáculo, algum filme, alguma pesquisa”. - Magno |
Foi apenas em 2012 que a Administração cedeu um espaço fixo para o projeto. "Foi uma luta pra conseguirmos esse espaço", afirma. A partir de então o projeto recebeu mais apoio da Universidade, que fez um investimento na formação. A Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP mantém um acervo semelhante ao da UnB. Magno participou de um seminário promovido pelo SESC-SP e lá trocou experiências e adquiriu subsídios para organizar o catálogo da Batcaverna.
Histórias
A última doação de materiais foi recebida em 2014. O diretor de teatro Plínio Mósca fez a doação de figurinos de dez anos de produção de seu grupo. O artista ia deixar Brasília e não queria levar as peças, então decidiu doá-las para a Batcaverna. Escolas de Samba da capital também doaram figurinos. Aderecistas da ARUC e da Acadêmicos da Asa Norte já estiveram confeccionando adereços que fizeram parte do Tubo de Ensaios, e depois ficaram como acervo. Aconteceu o mesmo com uma oficina de Drag Queens que utilizou o espaço como ateliê: o que foi produzido ficou como doação.
Uma das peças que mais chama atenção é uma persiana com o rosto do ator americano Clark Gable. Ela foi utilizada no espetáculo Zona Contaminada, de Caio Fernando Abreu, encenado em 1999 com a direção de Maria Brígida de Miranda e codireção de Magno Assis. “A gente encontrou a persiana jogada, mandou imprimir e virou um cenário”, conta.
Outra é um painel de tecido que cobre duas paredes da Batcaverna. Ele foi utilizado em produções do Tubo de Ensaios em 2010. “Esse painel foi colocado no Minhocão, fizemos uma Brasília – uma Asa Sul, uma Asa Norte, um Eixo Monumental. E os rabiscos eram traços do Niemeyer dos monumentos”, diz. Em 2012 o mesmo tecido foi reutilizado para uma oficina de pintura coletiva com estudantes secundaristas. A mesma peça ainda serviu de cenário novamente para o Tubo de Ensaios Fronteiras, e provavelmente vai ser usado novamente. “O que a gente faz é ressignificar cada vez essas histórias e esses objetos”, resume.
“Esse apareceu aqui e virou nosso totem de entrada. Não tenho ideia de onde veio!”