Radar da Extensão: confira a entrevista 

Dispondo atualmente de cinco Polos – Recanto das Emas, Paranoá, Estrutural, Chapada dos Veadeiros e Kalunga –, a Rede de Polos de Extensão (REPE) da Universidade de Brasília tem contado recentemente com a III Edição dos Fóruns Socioculturais Locais. Nesse contexto, no intuito de esclarecer e dar visibilidade a tais iniciativas, entrevistamos o Prof. Rogério Ferreira, diretor da Diretoria de Desenvolvimento e Integração Social (DDIS) do Decanato de Extensão.

 

O que é um polo de extensão e como funciona a Rede de Polos de Extensão da Universidade de Brasília?

A Universidade de Brasília tem um compromisso social inerente à sua criação, focado na realização de ações qualificadas dentro de seu território de atuação. A extensão universitária surge com muita força nesse contexto, porque é uma possibilidade de gerarmos diálogo entre comunidade e universidade, sem hierarquia, em uma perspectiva de fazer junto e de desenvolver projetos e programas que possam ter uma perspectiva sustentável de ações para um território.

Nesse sentido, a ideia dos Polos de Extensão acaba se destacando, uma vez que estes acabam vindo a organizar um conjunto de atividades de extensão que acontecem num determinado território. Os Polos cumprem o papel de sair de uma dimensão individualista de desenvolvimento de projeto, e chegam em uma perspectiva de trabalho coletivo. É ali que vão ser organizados um conjunto de ações para que elas aconteçam de maneira orgânica e não de maneira isolada no território.

Quando nós assumimos a Diretoria de Desenvolvimento e Integração Social, percebemos, numa avaliação coletiva, que passar por uma metodologia de rede faria com que tivéssemos uma política pública mais definida pela universidade. Com isso, priorizamos iniciar esse formato com cinco Polos de Extensão. Atualmente contamos com três Polos nas regiões administrativas do Distrito Federal, e dois Polos localizados no estado de Goiás – todos eles funcionando em dimensões regionais, tendo em vista a possibilidade de diálogo da universidade e comunidade em um território mais amplo.

 

Qual a finalidade dos Fóruns Socioculturais de Extensão?

Como nós temos esses cinco espaços de referência, é superimportante que nós tenhamos o Fórum Sociocultural para colocar de maneira efetiva, e não só discursiva, a universidade e a comunidade em diálogo. O principal objetivo da realização dos Fóruns Socioculturais acaba sendo elencar as demandas que surgem no território. Sendo assim, não temos a universidade pensando para o território, mas sim a universidade em posição de escuta e de diálogo. Isso acontece para que, ao identificarmos demandas dos territórios, possamos alimentar o edital anual da Rede de Polos de Extensão e convidar, assim, a comunidade acadêmica da Universidade de Brasília a participar desse movimento.

 

Alguns dos polos já receberam outras edições do Fórum Sociocultural. Com o passar dessas edições, existiu algum aumento significativo de projetos submetidos e pessoas engajadas? Existe algum levantamento quantitativo ou qualitativo que documente esses dados?

Essa está sendo a terceira leva de fóruns em todos os polos na metodologia de rede. Antes, existiam editais específicos que tinham uma durabilidade ainda reduzida – às vezes de três meses, ou até mesmo de dois meses de duração –, o que fez com que o diálogo com a comunidade não se estendesse com o passar do tempo. Hoje em dia, com o movimento dos fóruns, percebemos um aprofundamento muito maior das relações, o que possibilitou com que professores, estudantes e comunidade passassem a conversar de maneira mais orgânica, fazendo o número de pessoas realmente engajadas nos processos aumentar naturalmente.

Em termos de escala, atualmente contamos com aproximadamente 60 projetos na rede como um todo – estes se vinculam a outros projetos, uma vez que, todas ações em desenvolvimento nesses espaços também ajudam na composição do planejamento e da execução dos fóruns. Utilizando o Fórum Sociocultural que aconteceu recentemente no Polo Kalunga como exemplo, percebemos que o engajamento da comunidade local aumentou muito e que isso vem acontecendo de maneira muito fluida.

 

Você lembra de algum projeto ou ação que tenha gerado um impacto concreto na comunidade?

Arrisco dizer que, na maioria das vezes, as soluções dos problemas se dão dentro, e não fora, do espaço em que eles ocorrem – isso porque nele estão os conhecedores do território, de sua realidade e de suas necessidades. Dessa forma, cabe à universidade, sensível a essa perspectiva, reconhecer a sua melhor maneira de engajamento.

Como exemplo de impacto concreto, no último Fórum Sociocultural do Polo Kalunga, foi instituída a realização de um portal de entrada para a região do Parque da Chapada dos Veadeiros via Cavalcante. Nesse caso, existem projetos de extensão voltados para o turismo em que esse fato já estava alinhado a essa ótica, para que isso acontecesse de maneira sustentável e não predatória. A partir do momento em que aumentamos a perspectiva turística naquela região, devemos reconhecer todos os impactos que isso pode acarretar, inclusive a possível exclusão da população local de muitos desses processos.

Essa já era uma ação engajada, na qual profissionais da Universidade de Brasília, em comum acordo e em diálogo estreito com associações locais – que também trazem muito conhecimento sobre o território e sua perspectiva turística – já realizavam um projeto comum. A realização de ações como essa, portanto, não acontece de um dia para o outro – elas são amadurecidas junto à comunidade ao longo dos projetos. Com isso, aumenta a responsabilidade da universidade, já que muitas vezes ela se reduziu apenas ao espaço do campus.

 

Quais são suas expectativas para o futuro dos polos de extensão?

Acredito que estamos num momento mais maduro. Não sentido de paralisação, muito pelo contrário. Mais no sentido de que as relações se aprofundaram tanto, que agora a rede começa a caminhar de uma maneira muito mais dinâmica. Isso ocorre porque, quando estamos em uma dimensão inicial, precisamos ter os conceitos muito bem estabelecidos. Agora a ideia já começa a ficar madura no coletivo, não se restringindo apenas a uma pessoa. Com isso, os fóruns começam a responder de maneira muito mais efetiva ao objetivo de ter clareza sobre as demandas do território e da dimensão de agir em conjunto – em que a decisão sempre se dá em uma perspectiva coletiva. Assim, temos consolidado um modelo de gestão testado e com muita abertura para as modificações que foram feitas.

Posso dizer que, com uma condição orçamentária mais volumosa e com o atual governo – que se conecta muito mais com a perspectiva da ciência, da universidade e do papel

social da universidade –, temos uma esperança, mesmo que passiva, de conquistar um cenário maior. Nós temos uma dimensão que não se dá simplesmente em uma perspectiva do território mais imediato, mas também da internacionalização da extensão.

Recentemente, participamos eu e a Profa. Sílvia, coordenadora da DDIS que também está à frente da dimensão dos Polos, de um evento em Cuba no qual o foco era pensar o papel social da universidade. A dimensão dos Polos de Extensão, apresentada por nós, teve uma aceitação enorme e abriu portas para convênios de outras ordens que e pode extrapolar essa dimensão territorial mais imediatas e abre possibilidade temáticas. Temos também a perspectiva de parceria com universidades peruanas, algo que inclusive já está em andamento.

É um momento pulsante e isso não sou apenas eu que digo – professores dizem, os estudantes envolvidos dizem, e a comunidade, que julgo a fala mais importante, também diz.

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