Atividade do Departamento de Psicologia Clínica mostrou como sobrecarga de trabalho não pode ser banalizada no cotidiano de mulheres de todas as classes e raças

Minicurso ofertado pelo IP durante a Semuni 2023 reuniu mulheres presencialmente e on-line. Foto: Mariana Reginato/FAC

 

O minicurso Mulheres exaustas: se você é uma delas, esse curso é para você!, sobre as condições de trabalho e o esgotamento feminino, abriu a programação noturna do Departamento de Psicologia Clínica na 23ª Semana Universitária, nesta segunda (25). Oferecida pela professora Carla Antloga e pela doutoranda Janaína Bosa, a ação foi baseada na observação do cansaço feminino como fenômeno social, complexo e multifacetado. O evento semipresencial contou com a participação de 85 mulheres, 40 presencialmente, no Anfiteatro 4, no ICC Sul, e 45 na transmissão on-line.

Carla Antloga coordena o grupo de estudos em Psicodinâmica do Trabalho Feminino (Psitrafem), vinculado ao Instituto de Psicologia (IP) e contou sobre o contexto de criação. Ela engravidou enquanto fazia o doutorado. Durante a gestação, sentiu-se inadequada e inválida para o ambiente acadêmico, que não era adaptável à sua realidade. Assim, decidiu montar o grupo para estudar fenômenos sobre o trabalho feminino, o machismo e a exaustão das mulheres.

O minicurso teorizou sobre o conceito de trabalho e quais as posições que as mulheres ocupam. Segundo Antloga, em condições precárias de trabalho, as relações sociais são as primeiras a serem afetadas. Para ela, o trabalho é definido como algo político, que transforma a sociedade e a trabalhadora. Nessa definição estão incluídas ocupações sem remuneração, como doméstica, cuidadora e, em alguns casos, pesquisadora.

As palestrantes trouxeram provocações sobre a posição feminina de cuidadora – do ambiente de trabalho, da família, das relações amorosas –, muitas vezes vista como obrigação. “Eu já deixei de ficar com meus filhos, já gastei do meu dinheiro para cuidar de pessoas do meu trabalho. E tudo que fazemos não tem reconhecimento algum. Isso leva ao esgotamento”, contou Antloga.

Geni e Gabriella, mãe e filha, participaram do minicurso em busca de saídas para a rotina intensa. Foto: Mariana Reginato/FAC

 

A discussão serviu como estímulo para as participantes refletirem sobre a própria vida e impulsionou análises sobre a importância do outro no contexto individual. Geni Teixeira dos Santos, pedagoga e estudante de Serviço Social, compareceu com a filha Gabriella Salgado dos Santos.

“Achei incrível, principalmente pela sinceridade da professora em relação às dificuldades da maternidade, apesar de ter tido uma experiência diferente”. Quanto ao aprendizado, demonstrou esperança: “Vai ser duro realizar as mudanças para vencer o cansaço, mas estou disposta”.

Gabriella Salgado, estudante de Direito, também se mostrou satisfeita ao final do evento. “Quando encontrei a inscrição, falei para minha mãe que precisávamos ir, já que retrata nossa realidade. Vivemos à base de café, energético, tudo para lidar com faculdade, estágio, grupo de pesquisa e todas as demandas. E quando você se depara com a situação, já não tem mais nenhum dia livre e se pergunta onde sua vida foi parar. Foi bem sincero para lidarmos com a vida real, sem nada utópico. Fiquei feliz que na Semana Universitária de 2023 tenha tido essa extensão, já que abrange algo não acadêmico. Estamos falando sobre a realidade, sobre se sentir bem sem se esgotar”.

O curso foi concluído com um incentivo para as mulheres pensarem sobre a necessidade de fazer escolhas e ter coragem de abrir mão de tarefas que não cabem no dia a dia. E também a necessidade de mudar a postura em relação à obrigação de "cumprir todas as tarefas com êxito". A pesquisadoras alertaram, ainda, para a necessidade de realizar tarefas que contemplem gostos e vontades de cada pessoa, sem assumir postura de "refém da própria exaustão".

FAC NA SEMUNI – A Semana Universitária 2023 está a todo vapor! Até 29 de setembro, estudantes, professores, técnicos, pesquisadores e comunidade externa circulam pelos campi, envolvidos em centenas de atividades que apresentam a UnB e suas ações de ensino, pesquisa e extensão ao público.

Uma equipe de estudantes da disciplina Apuração Jornalística, da Faculdade de Comunicação, está acompanhando a programação e produzindo registros como o que você leu agora.

Para eles, uma oportunidade ímpar de praticar o que aprendem. Para o público leitor, a chance de ficar ainda mais bem informado sobre o que acontece na Semana Universitária. Fique ligado nos canais oficiais da Universidade de Brasília e aproveite o resultado dessa parceria.

 

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*estudante de Jornalismo da Faculdade de Comunicação (FAC), sob supervisão do professor Sérgio de Sá

 

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