Comunidades tradicionais compartilham visões sobre resposta do poder público em tempos de pandemia. Práticas alternativas promotoras de bem-estar estão abertas de forma assíncrona

Convidados trouxeram para o público da Semuni a realidade de seus povos. Imagem: Reprodução/DEX

 

As atividades da 21ª Semana Universitária chegaram, nesta quarta-feira (29), ao dia dedicado à saúde mental. Mediada por Luciana Ouriques, antropóloga e sanitarista, a programação começou com o compartilhamento da perspectiva de representantes de comunidades tradicionais indígenas, ciganas e de terreiro sobre a resposta do poder público às questões de saúde durante a pandemia. O evento contou com tradução para Língua Brasileira de Sinais (Libras).

 

"Essa pandemia trouxe muitas dificuldades e perdas para os povos de santo. Isso fragiliza e nos obriga a uma renovação moral, psicológica e emocional", afirma Pai Maike de Ogum, convidado do evento e pai de santo da Tenda Africana Nossa Senhora Aparecida, no Rio Grande do Sul. Ele lembra que é nos espaços coletivos de louvação que os fiéis se fortalecem e se aconselham junto a guias e mentores. "Apesar disso, tenho sempre uma visão otimista de que, em toda situação, o bem sempre vence e a luz se traz presente."

 

A falta de interações no espaço coletivo também foi sentida na comunidade de povos ciganos de Diran Calon. Ele conta que, tradicionalmente, as refeições são feitas de maneira coletiva, sendo normal ter pelo menos dez pessoas sentadas à mesa de café da manhã. "Quando a pandemia chegou, não tivemos orientações adequadas da Secretaria Municipal de Saúde. Peguei covid e, infelizmente, passei para minha família inteira", conta.

 

A ausência de posturas específicas que fossem voltadas para essas populações permearam todas as falas dos convidados. A psicóloga e coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Nita Tuxá, acredita que falta a compreensão do que significa saúde para os povos tradicionais.

 

"Vivemos constantes violências epistemológicas nesse sentido, a começar pela concepção de que povos originários não fazem ciência. Parece que se eu trouxer discursos e saberes tradicionais isso invalida meu saber de psicóloga", explica Nita Tuxá.

 

Cristine Takuá, filósofa oriunda do povo Maxacali, conta que existem muitos parentes adoecendo e sendo levados para lugares que não são adequados para recuperação, uma vez que a cosmologia de seu povo considera essencial a integração-homem natureza como forma de saúde, inclusive mental. O líder espiritual Guarani Carlos Papá acrescenta: "É preciso pensar formas que respeitem as medicinas tradicionais."

 

Edmundo Xukuru, psicólogo do distrito sanitário especial indígena de Pernambuco acredita que a orientação de distanciamento social obrigou as comunidades a deixarem de viver seus rituais, mas que pensar em estratégias para lidar com o distanciamento sem deixar de viver a cultura foi extremamente importante. "Não dá para pensar em bem-viver indígena sem a conexão com o sagrado e com a mãe Terra."

Há também a oportunidade de assistir a programação assíncrona da Semuni. Imagem: Reprodução/DEX

 

OUTRAS INICIATIVAS – Quem não conseguiu acompanhar as atividades ao vivo ainda pode conferi-las no canal da Extensão no YouTube. Ao longo dessa quarta-feira foram transmitidas a oficina de Dança viva; a oficina de escrita criativa e curativa; a roda de alinhamento energético; e a oficina sobre a política de direitos humanos da UnB.

 

Também estão acessíveis as atividades pré-gravadas Aromaterapia na imunidadeReiki - sintonia com energias de cura, amorosidade e compaixãoPrática de Hatha Yoga com Anna Kali; e Cultivando a saúde mental com as plantas medicinais do projeto Quintal da Saúde.

 

PROGRAMAÇÃO – Todas as ações da 21ª Semana Universitária acontecem de modo remoto e são gratuitas. Para obter o certificado de extensão, é necessário fazer a inscrição pelo Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa) e preencher os formulários de frequência que estarão disponíveis nas descrições dos vídeos e/ou nos chats das atividades ao vivo.

 

>> Participe das atividades

 

As atividades serão transmitidas pelos canais do DEX e da Semuni no YouTube, além de quatro outras salas virtuais na plataforma dedicadas a dar vazão às mais de 1.500 ações do evento.

 

Confira o vídeo de abertura do dia da saúde mental

 

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