Professoras da UnB destacam os desafios no período e a importância da participação feminina nas ações que chegam diretamente até a comunidade

Em celebração ao Mês da Mulher, a Secretaria de Comunicação (Secom) da UnB publica uma série para homenagear aquelas que contribuem para fortalecer o ensino, a pesquisa, a extensão e a gestão da instituição durante a pandemia de covid-19. A terceira matéria resgata a importância da presença feminina na realização de projetos de extensão, que têm continuado ativos e relevantes.

 

Março é o Mês da Reflexão na UnB. A Universidade promove, em parceria com o Instituto Federal de Brasília (IFB), programação com foco nas mulheres até o dia 31. Clique aqui para saber mais. Arte: Ana Grilo/Secom UnB

 

O período de pandemia do novo coronavírus tem sido de desafios para todos, e para as mulheres da academia não é diferente. Durante a adoção do isolamento social, as mulheres foram as mais afetadas, negativamente, pelas dificuldades de equilibrar as várias facetas de suas vidas. No caso de professoras e estudantes, elas acabam tendo menos tempo para se dedicar a pesquisas ou atividades acadêmicas do que colegas do sexo masculino.

 

Isso porque, ficando em casa, elas tendem a acumular funções como trabalho, estudo e maternidade, como apontam alguns estudos. A rotina de múltiplas jornadas de trabalho traz impactos como sobrecarga e perda de produtividade. Uma pesquisa de 2020 realizada pelas entidades Gênero e Número e Sempre Viva Organização Feminista revelou que 41% das mulheres que continuaram com seus empregos durante a crise pandêmica dizem estar trabalhando mais.

 

A situação piora quando se acumula as responsabilidades da maternidade. Entre pesquisadoras, este é um fator de difícil conciliação com o trabalho. É o que mostrou outro levantamento, do Movimento Parent in Science, realizado com mais de 15 mil cientistas brasileiros. Entre as respondentes mulheres que têm filhos, apenas 4,1% têm conseguido manter a produção acadêmica remotamente.

 

>> Saiba mais sobre a atuação de cientistas mulheres da UnB durante a pandemia

 

Os desafios da pandemia são, no entanto, vivenciados por cada mulher de forma particular. Para algumas, o início do isolamento social foi, na verdade, uma oportunidade de mergulhar ainda mais em seus projetos. É o caso de Emília Vitória da Silva, professora da Faculdade UnB Ceilândia (FCE). “Como não estava envolvida com as aulas, pude me dedicar mais, mas tenho amigas que são mães que estão tendo dupla, tripla jornada”, conta. 

Emília Vitória da Silva frisa sua preocupação com a incerteza que cerca a população diante da pandemia. Foto: Arquivo pessoal

  

A docente é responsável pelo grupo de pesquisa Acesso a Medicamentos e Uso Responsável (Amur), do qual se originou um projeto de extensão, também liderado por Emília, que combate a desinformação acerca do Sars-Cov-2. A iniciativa envolve mais de 20 pessoas e já produziu 68 diferentes panfletos de conscientização sobre o uso de medicamentos no tratamento da covid-19 e os cuidados com a infecção. 

 

Já Margô Karnikowski, coordenadora do programa de extensão Universidade do Envelhecer (UniSer), conta que no primeiro momento, o isolamento social foi, para ela, um período de introspecção e autoconhecimento, e considera isso muito importante para viver no cenário da pandemia.

 

No âmbito da extensão, a realidade foi diferente, uma vez que a disseminação do novo coronavírus afetou diretamente o público com quem trabalha, fazendo com que as atividades tivessem que parar. "Foi muito frustrante, mas foi a atitude responsável a se tomar”, diz. A iniciativa coordenada por Margô Karnikowski tem como público-alvo adultos acima de 45 anos e atua na formação de sujeitos ativos na construção de políticas públicas para o envelhecimento.

 

Para Margô, a situação foi especialmente difícil porque os idosos que participavam do programa UniSer tinham tendência ao isolamento, mesmo antes da pandemia. “Eu me senti muito aflita. A maior parte dos estudantes da UniSer são mulheres que já chegam muito calejadas por todas as dificuldades impostas pela sociedade. Como mulher, me sinto solidária em relação a isso”, compartilha.

 

ELAS FAZEM A DIFERENÇA – Tanto Emília como Margô são farmacêuticas por formação e acreditam que esse é um fator determinante para que se mobilizassem não só em prol da segurança de suas famílias, mas também dos envolvidos nos projetos. 

 

Para Emília, o maior desafio é a luta contra as notícias falsas e manipuladas sobre o uso de medicamentos para conter a covid-19. Segundo a docente, a incredulidade das pessoas em relação a fontes confiáveis e a credibilidade dada a sites que nem mesmo citam os autores das informações são questões difíceis de contornar. Isso, no entanto, faz com que trabalhe cada vez mais para entregar informações verdadeiras e objetivas.

 

>> Relembre: Projeto de extensão combate covid-19 com informação

 

A professora também conta que demorou um pouco até que conseguisse adaptar o trabalho durante o isolamento. “De início, houve um certo choque, como se a situação fosse transitória e logo as coisas voltassem ao normal”, justifica.

Margô Karnikowski acredita que "o desinteresse dos idosos em atividades on-line é um conceito que está caindo por terra". Foto: Arquivo pessoal

 

Margô Karnikowski acredita que o maior desafio enfrentado na coordenação da UniSer foi a retomada remota, em outubro de 2020. Segundo a docente, o fato de realizar atividades voltadas para o afeto e o social, acrescido à insegurança sobre a viabilidade de o público do projeto acompanhar as atividades pelo computador, foram ponderados. "Houve uma polarização, mas aí você tem o bônus de ser uma mulher gestora. Você pode bater o martelo e dizer 'vai ser assim, eles podem fazer isso’", afirma. 

 

No último edital lançado para participação em atividades do programa foram recebidas 1.400 inscrições para um total de 300 vagas. “Nem sabemos como vai ser quando voltarmos ao presencial, temos que manter a qualidade das nossas atividades." 

 

A coordenadora elogiou a proatividade da Universidade de Brasília frente às dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus. Para ela, a postura da reitora Márcia Abrahão incentivou as mulheres a se envolverem nos projetos de extensão. “Tenho muito orgulho de dizer que a UnB não parou. Nós temos uma mulher à nossa frente, nossa reitora, e ela não parou.”

 

Margô destaca ainda a importância de que as mulheres não se deixem abalar pelos percalços: “Nunca devemos perder a capacidade de nos impormos diante dos preconceitos que vivemos”.

 

>> Conheça mais sobre iniciativa realizada pela UniSer durante a pandemia

 

MÊS DA REFLEXÃO – Até 31 de março, a Universidade de Brasília (UnB) e o Instituto Federal de Brasília (IFB) promovem programação conjunta dedicada a homenagear e discutir o papel da mulher na ciência e na sociedade durante a pandemia: é o Mês da Reflexão. Atividades educativas e pedagógicas diversas serão realizadas remotamente e transmitidas pelos canais da UnBTV e da TV IFB no YouTube.

 

A ação também integra a campanha institucional A UnB quem faz é a gente. A estratégia de comunicação busca reconhecer, valorizar e incentivar a atuação coletiva na superação dos desafios no atual momento de pandemia de covid-19, bem como reunir informações sobre iniciativas, programas e serviços para orientar os segmentos universitários nestes novos tempos.

 

*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB

 

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