Olgamir Amancia foi escolhida durante o 47º Encontro Nacional do Fórum de Pró-Reitores de Extensão (Forproex)

A Decana de Extensão da Universidade de Brasília, Professora Olgamir Amancia, foi eleita para a presidência da coordenação nacional do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. A eleição foi realizada durante o 47º Encontro Nacional do Forproex, que aconteceu em formato virtual entre os dias 11 e 13 de março de 2021. O evento foi organizado conjuntamente pela Universidade Federal de Alfenas e pela Universidade Federal de Minas Gerais.

 

Olgamir Amancia é doutora em Educação. Desde 2017, é decana de Extensão da UnB. Entre 2011 e 2014, chefiou a Secretaria da Mulher do Governo do Distrito Federal. No Forproex, coordenou a Regional Centro-oeste entre 2018 e 2019, e foi vice-presidenta na gestão 2019-2021.

 

O Forproex é responsável pela articulação e definição de políticas acadêmicas de extensão. Entre as prioridades da nova presidenta, estão o financiamento da extensão universitária como política de Estado e o acompanhamento da implementação da inserção curricular da extensão. Confira a entrevista com Olgamir Amancia. 

 

Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

Quais serão as prioridades de sua gestão à frente do Forproex?

 

Serão cinco prioridades, que derivam das reflexões do fórum expressas na carta de Minas Gerais. A primeira delas, é manter e consolidar o Fórum como espaço permanente de discussão, mesmo neste contexto de pandemia, oportunizando uma escuta permanente aos pró-reitores e pró-reitoras que resulte em formulação e implementação das ações de extensão em nível nacional. A segunda prioridade seria pautar, junto aos setores governamentais competentes e às associações dos dirigentes de instituições de ensino superior (Andifes e Abruem), a necessidade de se viabilizar, como política de Estado, o financiamento da extensão universitária.

 

Em terceiro lugar, precisamos acompanhar, de forma sistemática, a implementação da inserção curricular da extensão com o devido registro de dados com vistas à avaliação global do processo; A quarta prioridade é, devido à atualidade da proposta, difundir amplamente a Política Nacional de Extensão Universitária, concebendo-a como base para a atuação das instituições públicas de ensino superior brasileiras e para a articulação das redes nacionais e internacionais de extensão. Por fim, creio ser importante também investir na produção acadêmica da extensão e fomentar a criação de espaços de divulgação e socialização de experiências.

 

Quais são os principais desafios para o Forproex nos próximos anos, e como pretende lidar com eles?

 

Eu diria que, no contexto em que vivemos, o que não faltam são desafios, especialmente porque não há que se falar da extensão dissociada das outras dimensões formativas na educação superior. Mas, posso, neste momento, destacar três, dentre tantos outros:

 

É um grande desafio, por exemplo, estimular iniciativas para a concretude do preceito constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão na educação superior brasileira, por meio da articulação de redes intra e interinstitucionais. A consolidação das redes visa o compartilhamento de experiências e saberes que se concretizarão através da construção de editais conjuntos e do fomento a projetos e programas que articulem a pesquisa e o ensino em consonância com as demandas sociais dos territórios. Estas parcerias, tecidas e compartilhadas pelas redes, ampliarão as reflexões sobre o papel da extensão na democratização da educação superior consolidando vivências e práticas resultantes das mediações entre diferentes áreas do conhecimento, cursos, unidades acadêmicas e instituições.

 

Um outro desafio reside em atuar para que se cumpra o previsto na estratégia 12.7, do PNE, regulamentada pela Resolução no. 7/2018, do CNE, sobre a inserção da curricular extensão em todos os cursos de graduação. Segundo essa resolução, as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação. Neste momento, segundo dados da Comissão de Avaliação do Forproex, divulgados em seu 47º Encontro Nacional, menos de 5% das IPES concluíram seu processo de inserção curricular, 35,6% estão em fase de implantação e que mais de 59,8% estão em fase de discussão. Por esses dados, acredito que realizar um acompanhamento sistemático desse processo é fundamental. A diversidade de instituições associada a autonomia e a democracia interna se explicitarão em diferentes proposições. Entretanto, o eixo estruturante que compreende a extensão como dimensão formativa deve ser preservado de maneira a não reduzir o processo de inserção curricular da extensão a racionalidade instrumental de aproveitamento de créditos. As resoluções deverão incluir, de maneira criativa, as dimensões técnica, estética e ética da formação acadêmica nos projetos pedagógicos dos cursos.

 

Reconheço como outro desafio o desenvolvimento de atividades de extensão em contexto remoto sem, entretanto, abdicarmos dos fundamentos e diretrizes que caracterizam estas atividades. Para isso, será necessário assegurar que a extensão universitária que se fundamenta na interação dialógica e na convivialidade adeque-se ao contexto do ensino remoto, sem que fique restrita à divulgação científica, ainda que esta componha também a agenda da extensão.

 

De acordo com as Diretrizes Nacionais de Extensão Universitária, as instituições de ensino superior têm até dezembro de 2022 para assegurar 10% dos créditos curriculares para a extensão. Como a UnB e o Forproex atuarão?

 

Primeiramente é importante destacar que houve alteração do prazo inicialmente estabelecido, que era de dezembro de 2021. Diante do contexto pandêmico, o CNE ampliou o prazo para a implementação das diretrizes de extensão em um ano, ou seja, as instituições de ensino superior terão até dezembro de 2022 para promover essas alterações nos currículos dos cursos.

 

Em segundo lugar, compreendendo a relevância da inserção curricular da extensão, devemos reconhecer que este ainda é um processo pouco experimentado pela grande maioria das IFES. Por isso, não há um modelo a seguir, mas cada instituição deverá se voltar para a sua realidade e se interrogar sobre qual é a função social que ela se propõe a cumprir. Tal definição não é terreno de resposta única. Desse modo, entendo que devemos promover espaços de compartilhamento permanente das experiências em curso e realizar, por meio de comissão específica, o acompanhamento dessa agenda de forma a sistematizar o processo e as contradições que o perpassam.

 

Por causa da pandemia, a extensão foi privada de uma das suas características mais importantes, que é o contato presencial. Como você vê a adaptação da extensão nesse contexto?

 

De fato, esta tem sido uma preocupação muito presente no Forproex. Estamos diante de uma realidade que exige a nossa atuação imediata de articulação do ensino e pesquisa para responder à principal urgência da humanidade, a batalha contra a Covid-19. Para preservar vida e seguir com nossa missão, tivemos que realizar as ações de extensão em um contexto radicalmente diferente daquele sobre o qual se ancora a nossa concepção extensionista, que é a convivialidade e a interação dialógica entre os sujeitos envolvidos.

 

Essa condição nos impõe um olhar crítico sobre a forma de atuar, compreendendo a necessidade de que se promovam adequações em sintonia com o contexto, mas reconhecendo o caráter excepcional dessa atuação e as fragilidades decorrentes dessa condição que impede a materialidade da interação dialógica, diretriz fundamental da extensão, que é radicalmente comprometida com a transformação da sociedade. As adequações têm oportunizado o contato com ferramentas não usualmente utilizadas em nossas atividades, seja pelo limite da tecnologia em relação às atividades de extensão, seja porque, em grande medida, os grupos populacionais e territórios com os quais interagimos compõem os extratos mais vulneráveis da sociedade, em geral, despossuídos das tecnologias digitais que lhes permitiriam a interação transformadora com a universidade. Por isso, ainda que as tecnologias digitais de comunicação a partir de agora passem a compor o escopo das metodologias e técnicas a serem utilizadas, é certo que os limites e as fragilidades decorrentes do seu uso não nos autorizam a naturalizar o trabalho remoto como o modo a ser assumido a partir de agora na formação acadêmica, especialmente em atividades de extensão universitária.

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