Evento da Semana Universitária mostra história das gravações de som e dá dicas de conservação e manuseio de discos

Semana Universitária: servidor da UnB, Marcelo Scarabuci tem coleção de vinis e deu dicas de preservação e restauração dos discos. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Os discos de vinil, conhecidos também como bolachões, fizeram muito sucesso até a década 1980. A partir daí, perderam espaço para o CD e, por fim, para as mídias digitais. Hoje em dia estão em alta de novo, voltando com toda força. Durante a Semana Universitária, vários fãs reuniram-se em palestra sobre manutenção e conservação dos vinis, na Biblioteca Central (BCE) da UnB.

“Não importa o tamanho, qualquer conjunto que você tenha um carinho se torna uma coleção”, definiu o palestrante Marcelo Scarabuci, servidor lotado na BCE desde 2012. Há 15 anos, ele coleciona equipamentos e discos comprados em viagens, em lojas de artigos usados e pela internet. Ao longo desse tempo, coleciona também bons negócios: já comprou um material de 30 dólares que hoje vale mil reais.

Formado em biblioteconomia, ele escreveu sua monografia em 2007, sobre digitalização e conservação de discos. A paixão vem dos tempos de criança, quando ganhou 60 discos do pai, e depois herdou mais 300 do tio. Hoje, a coleção privada tem dez mil discos, separados em internacionais, nacionais e obras raras. Além desses, são mais de dois mil repetidos usados para trocas. 

Entre eles, Marcelo tem o álbum Raul Seixas (conhecido como Carimbador Maluco, de 1983) autografado pelo artista, que tinha fama de não gostar de dar autógrafos. Ele também possui as primeiras edições de vários discos internacionais de ícones como Dylan, Beatles, Janis, Presley. “Um ponto importante é saber a viabilidade de recuperar um disco”, explica.

No fim da década de 1980, quando o CD se popularizou no Brasil, muitas pessoas se desfizeram dos vinis, vendendo ou jogando fora. “Foi uma época muito feliz pra mim, consegui salvar muita coisa”, se diverte. Entre os muitos equipamentos antigos, Scarabuci coleciona um cilindro fonográfico, formato inventado por Thomas Edison em 1877, a partir da invenção de Leon Scott, que gravava o som em um cilindro, mas não permitia sua reprodução; um gramofone infantil alemão da década de 1930, comprado em uma viagem à Espanha; e até um rolo de pianola, instrumento que executa canções automaticamente. 

Para ele, além do valor sentimental, as coleções têm valor histórico e geográfico, o que as torna ainda mais importante quando uma tragédia acontece, como no incêndio do Museu Nacional, em setembro deste ano. “No Museu Nacional havia uma coleção enorme de cilindros: gravações de músicas indígenas que nunca haviam sido digitalizadas, uma gravação da voz de Dom Pedro II”, lamenta.

Palestra sobre conservação de vinis reuniu fãs do formato em atividade na BCE. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

Um dos fãs dos bolachões presente na palestra da Semana Universitária era Gustavo Lopes, aluno de Museologia. Mas o formato preferido dele não é o disco de vinil comum, e, sim, o 78 rotações, que fez sucesso até meados da década de 1940. Sua coleção pessoal tem quase cem discos de música brasileira das décadas de 1930, 1940 e 1950. Artistas, como Carmen Miranda, Francisco Alves e Aracy de Almeida estão no acervo.

Os discos de 78 rotações são mais difíceis de achar, mas Gustavo pretende aumentar o repertório comprando pela internet e em sebos. “Muitas vezes os donos de sebo não sabem o que é, então tem que garimpar.”

O estudante desenvolve um trabalho de conclusão de curso sobre técnicas de digitalização e reprodução do formato. Ele conta que se interessou pelo assunto porque a pesquisa sobre vinil está mais bem desenvolvida atualmente. “Mas a pesquisa sobre 78 rotações ainda tem muito a avançar”, pondera. “Eu gosto muito de ouvir essas coisas, mas também busco o conhecimento formal. Colecionar, pra mim, é uma linha tênue entre esses dois mundos”, explica. 

CUIDADOS – Pegar seu disco favorito, tirar da capa, colocar na vitrola, pousar a agulha na primeira faixa. Não é apenas escutar música, mas, sim, um ritual. Porém, é preciso ter bastante cuidado. Os discos de vinil podem ter problemas como trincas, quebra e empeno, que acontecem principalmente por oscilações de temperatura e pressão exercida sobre eles. Portanto, o colecionador precisa se atentar a conservação, manuseio, acomodação e ambiente. Confira algumas dicas:

1. Nunca toque na área de gravação – segure seu disco apenas pelas bordas e pelo selo;
2. Não empilhe seus discos – o armazenamento deve ser vertical, de preferência de 15 em 15 discos;
3. Sempre guarde seus discos no plástico;
4. Não deixe a agulha cair sobre o disco, coloque-a com cuidado. Também não coloque moedas nem pesos adicionais sobre a agulha, isso desgasta os sulcos do disco;
5. Mantenha temperatura e umidade constantes – a temperatura deve ficar entre 22 e 25ºC, e a umidade, 55%;
6. Não limpe seus discos todo mês – a higienização deve ser simples, pontual, e deve ser feita apenas uma vez;
7. Para limpar seu disco, use água e sabão neutro e misture até fazer espuma; coloque o disco em cima de uma toalha e passe a solução até ficar bem úmido, mas sem molhar o selo; seque com um papel toalha, ou deixe secar em um escorredor de pratos depois de enxaguar. Nunca exponha seu disco ao sol.

 

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