Nos mercados produtos sem glúten se multiplicam e é comum ver gente cortando alimentos que contém a substância da dieta. Mas não é o que recomenda a professora Lenora Gandolfi, coordenadora do Centro de Pesquisa, Diagnóstico, Tratamento e Apoio aos pacientes com Doença Celíaca (DC) no DF, um Projeto de Extensão da Universidade de Brasília (UnB) que atende gratuitamente no Hospital Universitário de Brasília (HUB). “Nosso apoio é de diagnóstico correto, de acompanhamento e atendimento médico, nutricional, psicológico e odontológico”, diz a professora Lenora Gandolfi, coordenadora do projeto.
A doença celíaca é uma doença autoimune, apresentando permanente intolerância ao glúten em indivíduos com predisposição genética. O glúten é uma proteína presente no trigo, na aveia, no centeio e na cevada que provoca reação imunológica dentro do organismo e os sintomas: diarreia, diabetes tipo 1, tireoidite, osteopenia. “Pra melhorar só cortando glúten. Mas às vezes vem gente com o diagnóstico errado e já sem glúten. Não se deve tirar o glúten sem antes diagnosticar”, alerta Lenora.
Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB
No hospital, cada paciente atendido tem seus dados colocados numa planilha. Ao todo, são 535 pacientes diagnosticados com doença celíaca e outros tantos que foram atendidos, mas o diagnóstico não foi positivo. “Doença celíaca tem a forma de um iceberg. Só o menor percentual é que aparece como forma típica”, explica a professora. Os celíacos não podem consumir diversos produtos, como pães, biscoitos, macarrão, coxinha, cerveja e uísque.
“É uma doença que tem esse cunho social também, porque a pessoa tem que mudar uma rotina de vida alimentar”, aponta. “A minha tese de doutorado envolveu a biópsia de crianças com diarreia aguda, que tem atrofia total, igual celíaco. Quando eu fui buscar o resultado, a patologista disse que havia uma celíaca. Mas não, era um bebê de um ano e pouco que estava com diarreia aguda por infecção. Para mostrar que num país como o nosso a parte social se confunde com o diagnóstico da doença celíaca. A gente tem que separar isso”, conta ela.
ATENDIMENTO – O ambulatório começou em 1998 como Projeto de Extensão e, em 2005, se tornou também uma disciplina da Pós-Graduação da UnB. O projeto conta com uma equipe interdisciplinar formada por alunos de medicina no internato, e profissionais de diversas especialidades: gastropediatria, genética, odontologia, nutrição, terapia ocupacional, psicologia, e psiquiatria.
O primeiro passo para verificar se a pessoa é celíaca é o diagnóstico sorológico. Se o teste for positivo, é pedida a endoscopia com biópsia. Por fim, o diagnóstico genético. E depois, o tratamento em que se tira todo o glúten da dieta. “O paciente quando precisa fazer a dieta briga e não quer fazer. Por outro lado, vem muita gente que acha que tem a doença ou porque tirou o trigo ficou bom, a gente quer que ele volte a comer glúten pra fazer o diagnóstico e ele não consegue”.
Foto: Jéssica Marques/DEX UnB
A equipe estuda também a família do celíaco. “Nós temos pacientes crianças e, quando fazemos os exames com os familiares, descobrimos que a mãe tinha a doença, mas estava assintomática”, afirma a professora. Uma paciente assim foi a Viviane, de 9 anos. Os exames da mãe e de três tias foram positivos. Os do pai e do avô foram negativos. “Depois de alguns anos, repetimos o exame e o avô tinha virado positivo já com 70 anos. Ele passou a vida inteira sem ter a doença”, conta.
Um dos membros da equipe é Vagner dos Santos, coordenador do curso de Terapia Ocupacional da Faculdade UnB de Ceilândia (FCE). Como uma das maiores dificuldades é que os pacientes se comprometam com a dieta, ele faz visitas ao domicílio dos pacientes. “O tratamento da doença celíaca não é medicamentoso, então meu trabalho é aqui, dar uma orientação clínica e discutir sobre isso, de como as pessoas se organizam”, explica ele.
Nas visitas domésticas a equipe observa como funciona a alimentação dos pacientes no dia a dia, desde o ponto de vista dos utensílios para cozinhar, que não podem ser reutilizados depois de usados na preparação de alimentos com glúten, até de quem prepara a comida, porque normalmente crianças e adolescentes sobrecarregam os cuidadores. “Muitas vezes esses cuidadores não conseguem atender as especificidades, então como incluir os pacientes no processo de autocuidado deles dentro do contexto doméstico é algo que a gente discute”.
Os pacientes são encaminhados para a Associação dos Celíacos, ACELBRA-DF. No primeiro semestre do ano, foram duas reuniões. A parceria gerou uma cozinha experimental sem glúten e daí surgiu a festa junina sem glúten, que foi oferecida pela ACELBRA com o apoio do projeto de extensão.
SERVIÇO – O atendimento no ambulatório acontece às terças-feiras, das 8h às 11h, no prédio do Ambulatório 1, Corredor Azul, Sala G do Hospital Universitário de Brasília – HUB.